CRÍTICA | OS FANTASMAS AINDA SE DIVERTEM – BEETLEJUICE BEETLEJUICE

O tão famoso artista gótico de Hollywood, vulgo Tim Burton, finalmente volta a ser ele mesmo. Mas porque faço essa afirmação?

O tão famoso artista gótico de Hollywood, vulgo Tim Burton, finalmente volta a ser ele mesmo. Mas porque faço essa afirmação? Bem, é que durante os últimos anos – mais precisamente a última década – o cineasta passou por altos e baixos na sua carreira. Burton iniciou uma fase na sua cinematografia onde as cores começaram a dominar seus projetos. O exemplo disso foi o lançamento de “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, que muitos afirmam ser o longa onde o Tim Burton tem medo de ser Tim Burton. 

Este é um argumento que tem embasamento, porém, este filme é uma obra que ainda tem visivelmente a sua assinatura. Apesar disso, o artista ainda fez nos anos 2000 “Sweeney Todd” e “A Noiva-Cadáver”, ambas produções que possuem a clássica estética sombria que fez torná-lo outrora um diretor mundialmente consagrado. Os filmes desse autor modelaram uma geração de jovens dos anos 80 e 90 justamente por sua imaginação bizarra, e o público já reconhece um filme dele só pelo olhar do seu estilo único.

Agora respondendo de novo a pergunta inicial: sim. Burton voltou a ser ele mesmo. Em “Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice”, retornamos à casa em Winter River, onde três gerações da família Deetz se unem após uma tragédia familiar inesperada.

Em entrevista, o cineasta diz que a sequência de “Os Fantasmas Se Divertem” o fez voltar a ter amor pela arte, após o fracasso do live-action de “Dumbo” (2019), e é perceptível como a experiência neste projeto fez Burton perder o ânimo pelo cinema – já que é um filme que não tem a personalidade dele – porém, “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” o trouxe de volta às raízes do seu cinema autoral, basicamente lhe dando um retornou ao lar.

Ultimamente, Hollywood não está nas melhores circunstâncias e principalmente envolvendo a parte criativa, pois os grandes estúdios estão apostando em antigas franquias para conquistar – ou reconquistar – o público que “não está mais interessado” em histórias originais. Várias sequências e reboots estão sendo lançados, e em boa parte dessas produções o elemento chave é o caça-níquel. 

No meio desse cenário, “Os “Fantasmas Ainda Se Divertem” apela pela memória afetiva em algumas situações, mas é uma continuação bastante divertida ao se permitir ser um filme 100% Tim Burton, e tudo que fez seu cinema torná-lo admirável está aqui. Cenários teatrais, efeitos práticos, humor ácido e claro, além do visual gótico que está inteiramente presente. É notável como o artista está feliz, e condiz com esse longa que não tem medo de ser ridículo e fantasioso, tal qual ao antecessor. Na direção de arte existe o maior atrativo, pois ele consegue explorar a mitologia de Lugar Nenhum e demonstrar como esse mundo dos mortos é absurdo e lindo como nos cartoons, e lembra visualmente os cenários do expressionismo alemão, enquanto que o mundo dos humanos é maçante. 

Mesmo que essa sequência-legado que não se arrisque em inovar, e o diretor não visa fazer isso, ele consegue enfim utilizar sua estética visual e seus personagens para proporcionar um entretenimento que apenas Burton pode entregar, até mesmo usando elementos musicais. Mesmo com o longa sofrendo com uma narrativa inchada e travada em algumas situações, ele sobrevive quando o Michael Keaton entra em cena na pele do adorado Beetlejuice, e todos os holofotes se voltam para ele, no que concebe um show de extravagância que ajuda a mover a trama.

Além disso, a obra flerta um pouco com a metalinguagem, usando aqui os personagens de Willem Dafoe (Homem-Aranha) e Winona Ryder (Edward Mãos de Tesoura). Wolf, a persona de Dafoe, é um ator que vive praticando o método de atuação até morto e não cogita sair dele, enquanto Lydia Deetz tira vantagem sobre ver os fantasmas para comandar um programa paranormal na televisão. Ambos com referências claras da indústria e assim poder a satirizar.

Agora trabalhando aqui as relações familiares dos seus personagens, o convívio mãe e filha funciona, pois Astrid representa o espelho da mãe na juventude e Lydia quer voltar a ter uma conexão com a mesma (Jenna Ortega e Winona Ryder possuem uma química formidável). Logo, essa continuação conseguirá se comunicar com as duas gerações, já que a proposta é brincar em cima dessa dualidade. 

PS: Gostaria de mencionar Catherine O’Hara (Esqueceram de Mim), que está maravilhosa e muito à vontade para exibir sua inventividade na comédia. 

Este texto foi originalmente escrito por Max Guilherme, sendo adaptado e revisado por Lucas Monteiro.

Nota do crítico: 

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Título: Os Fantasmas Ainda se Divertem: Beetlejuice Beetlejuice

Duração: 1h44min

Gênero: Comédia, Fantasia, Terror

Onde Assistir: Cinemas

Sinopse: Na nova trama, voltamos à casa em Winter River, onde três gerações da família Deetz se reúnem após uma tragédia inesperada. Lydia Deetz (Winona Ryder), agora adulta, é mãe da adolescente Astrid (Jenna Ortega). A jovem introvertida, ao explorar o sótão da antiga casa, descobre a misteriosa maquete da cidade e, inadvertidamente, reabre o portal para o mundo dos mortos. Esse ato inesperado traz de volta o excêntrico fantasma Beetlejuice (Michael Keaton), que, mais uma vez, transforma a vida dos Deetz em um verdadeiro caos. Com seu humor peculiar e seu estilo único, Beetlejuice promete causar novas confusões, misturando o mundo dos vivos e dos mortos de uma forma que só ele sabe fazer.

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